sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Carta para o meu eu de 2013.

Olá, há algum sinal de chuva?

Estranho começar algo assim e falando logo algo que parece ser tão metafórico, mas em 2012 eu esperava um chuva que lavasse tudo e refrescasse o ar. Não dentro de mim, mas fora. Posso fazer chover a qualquer hora, em mim, mas não tenho controle algum do que acontece do lado de fora. É que a chuva é uma coisa boa, do lado de cá. A gente anseia por ela pra abrir aquele guarda chuva bonito, pra levantar de madrugada e fechar a janela, pra usar aquela blusinha de manga. Espero que você tenha acordado com frio algum dia desse novo ano.
Espero que a sua cabeça esteja bem leve, que sua vida corra normalmente e mais tranquilamente. Espero que você tenha conseguido o que queria, que agora esteja bem mais feliz e realizada. Quero que a felicidade vire rotina, ou que, pelo menos, a tristeza perca as chaves do seu quarto.
Quero dizer que você precisa desses amores impossíveis para viver - não esqueça deles. Só não pode deixá-los voar livremente. Tranque-os em um lugar onde você possa saber que eles estão lá mas que não possa vê-los ou senti-los. Deixe o seu coração tranquilo e com você. Ainda não é tempo de entregá-lo, nós duas sabemos disso.
Confie mais em quem confia em você. Confie menos nas pessoas novas. Confie, mas não integralmente, lembre dos erros que cometi. Tente ser mais pacífica, tente perdoar mais, sorrir mais, sonhar mais, sair mais, viver mais. Não se esconda: queira mostrar-se.
Hoje eu vejo todas as minhas escolhas espalhadas sobre uma mesa, posso imaginar que caminho eu teria seguido ao ter escolhido outros caminhos, mas não sei se me sentiria satisfeita ou feliz. Não seja tão impulsiva, não pense só em você. Não pense demais nos outros, não sinta tanto medo, tenha coragem para arriscar.
Se tudo der errado, não tenha medo de chorar e acordar com os olhos inchados. Apenas aceite seu erro e use seus defeitos para começar tudo mais uma vez. "Nunca é tarde, nunca é demais."
Eu lembro de querer sempre ser transparente, estar transparente. Isso pode ter sido um erro algumas vezes, tente não ser sempre tão sincera.
Tente não levar sempre tudo tão a sério. Tente não ser sempre tão sentimental; as pessoas nunca vão pensar como você, nunca vão interpretar a vida do mesmo jeito que você.
Ao fim, quero dizer que 2013 será um ano memorável. Você vai ter toda a felicidade que eu perdi este ano. Aproveite enquanto não precisa passar sua faixa à próxima você, ou, no caso, à próxima nós.
Busque felicidade.
Seja livre.



                                                A.M.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Yayo

Essa dor me contorce, me transforma em lágrimas e depois me faz nadar no oceano de água salgada que eu mesma produzi, me afoga nessa água que é tudo que eu sou e depois me faz lembrar que sempre há mais de onde tudo aquilo veio...
Quero pedir pra você me levar daqui, pra você me fazer esquecer de tudo isso que me dói e me livrar dessa vida pesada, mas aí lembro que eu não te conheço mais e também que eu nunca fui aquela que você imagina que eu sou, que você nunca amou o que eu realmente sou, que você nunca sentiu o meu gosto amargo pra saber que eu ainda carrego muita dor, que eu encontro uma nova dor todo dia e que isso as vezes parece ser demais pra mim, que eu sou nova demais pra carregar tudo isso, que fizeram a entrega nos ombros errados...
Impotente, é assim que me vejo. Me vejo presa a um lugar, à pessoas, a um tipo de vida que eu não quero preservar, mas não tenho escolha. Por isso toda essa história me toca tanto, me suga tanto... Porque me faz pensar em tudo diferente, em um outro lugar, longe de tudo, me dando oportunidades de não sentir mais tanta dor sem sentido.
Posso dizer que já quis, mas hoje já não sei se abriria a porta do seu carro e daria um sorriso como aquele que você guardou de mim. Já não sei se eu não teria medo dos seus olhos me fitando e se teria coragem de deixar você segurar a minha mão.
Eu não sei mais se quero que você me abrace ou se quero te ver partir.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Texto dedicado aos meus professores.

“Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de todas as dificuldades, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.”

E é aí que entramos, pois o “trabalho” somos nós. Colocamos, mesmo que inconscientemente, nosso futuro nas mãos de vocês e, daqui a algum tempo, vocês serão os professores de gramática, matemática, biologia, física, história, filosofia, literatura, interpretação, inglês, espanhol, química e geografia que fizeram com que fossemos aprovados. E isso vai ficar marcado em nós pra sempre.

Cada piada, risada, bronca, dica e questão nos fez crescer durante esse ano e, mesmo que não pareça verdadeiro em alguns momentos, somos todos muito gratos por tudo o que fizeram por nós e por tudo o que vocês passaram a significar em nossas vidas.

Quando me pediram para escrever isso, eu soube que não deveria colocar no papel nada que não demonstrasse o tamanho do meu, ou, no caso, nosso sentimento de felicidade por ter convivido com vocês. Texto nenhum vai conseguir exprimir o que uma turma sente por seus professores, mas tentamos.

Como diria Henry Adams: "Um professor afeta a eternidade; é impossível dizer até onde vai sua influência."

Muito obrigada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Queria um chão de cimento, daqueles que ficam gelados ao amanhecer, por causa do orvalho, e também ao anoitecer, pelo frio que a noite traz. Um Ipê roxo para fazer sombra, uma casa pequena, cachorros e gatos, uma rua tranquila, um amor simples de lidar, como aquele algodão doce que derrete fácil na boca.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Dor segundo A.

      Eu lembro da dor, lembro bem. Não porque ainda doa, não dói há algum tempo, mas porque foi tão forte e tão marcante que eu sempre vou ter aquele arrepio na pele ao lembrar de todas aquelas noites que passei escondida, no escuro, esperando que alguém arrancasse todo aquele sofrimento de mim, que me apunhalava   lentamente enquanto eu derramava todas as lágrimas que conseguia produzir.
      Sei que aquela não foi a primeira vez que eu senti uma perda, mas, por algum motivo, é a única vez que consigo lembrar do sofrimento. Talvez porque eu já fosse "velha" o bastante pra entender o que uma perda significa. Talvez porque eu já soubesse o peso que cada palavra carrega consigo e não conseguisse me livrar de nenhuma grama desse peso que eu insistia em sempre levar sobre meus ombros.
      Meu rosto havia mudado, minha voz parecia mais grave e passei a carregar o celular como um órgão vital. A perspectiva de mundo que eu tinha acabou junto com todas as forças que eu usei para chorar e não morrer sem ar. Fiz novos amigos, grandes amigos, os melhores que alguém como eu poderia ter. Tanta coisa mudou... Mas se perguntassem, eu saberia dizer exatamente que parte de mim estava dolorida.
      Aí eu conheci você e foi como uma bolsa de gelo para um joelho roxo. Eu podia respirar mais livre e agora já sorria. Te cuidei tanto, assim como você cuidou tanto de mim e mesmo assim te fiz mais triste do que feliz. E sinto muito por isso.
      Hoje eu sei que toda aquela dor vai voltar, e tá bem perto, posso sentir seu cheiro. Isso porque eu não sei lidar com nada, não sei fazer as coisas do jeito que deveriam ser feitas e não mereço você. Eu não deveria fazer as coisas que faço e não deveria ser do jeito que sou, mas não consigo evitar. Um dia, sei que isso vai chegar a você e eu queria muito que você me perdoasse por ser assim. Sou fruto de muitos erros e sei que você não foi um deles, mas eu fui. Desculpa por não ser quem você achou que eu sempre fosse, desculpa por te esconder a verdade, desculpa por colocar tudo a perder, mas foi mais forte do que eu.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Afonso e o labirinto

      Tonto, tateou à procura dos óculos. Olhou as horas, desligou o despertador. Era o dia da terceira entrevista da semana. Levantou-se, fez um chá, regou o pé de tomate enquanto observava a poeira da cidade. Um lugar velho, com cheiro de fumaça e alguns prédios novos e exuberantes. Tomou o chá, depois um banho. Arrumou o cabelo e fez a barba. Ao abrir o guarda-roupas procurou pela camisa de botões nova e, ao vesti-la, percebeu que ela estava bem mais gasta do que nova.
      Pegou um ônibus vago, pura sorte. Chegou ao escritório alguns minutos antes da hora marcada. Entrou em uma sala grande, com várias cadeiras acolchoadas e muitos rostos; nenhum conhecido. O relógio apontou 8:30 da manhã e uma mulher de meia idade com quadris largos abriu a porta da sala e adentrou-a, dando um sonoro "bom dia", logo em seguida.
      Começou a ouvir histórias de cursos incompletos, uma gravidez precoce, alguns desempregados por falência e um número relativamente grande de inexperientes. Afonso estava começando a pensar em como diria, na frente de todos, que havia largado seus pais em uma pequena cidade para procurar por uma garota sem nome na capital. (O máximo que conseguira encontrar: um apartamento antigo e um pé de tomate na varanda).
      Todos os seus documentos estavam organizados em uma pequena pasta marrom que jazia em seu colo. O frio da sala deixava suas mãos rígidas e ele começou a se perguntar se conseguiria desenrolar os dois barbantes que prendiam as duas abas da pasta.
      A qualificação exigida para aquele cargo era mínima e, talvez, seu diploma da faculdade não fosse útil ali, mas isso não o preocupava; precisava apenas de um motivo para ficar. Em sua cidade, seria apenas mais uma cabeça, apenas mais um par de pernas compridas e apenas mais uma pessoa de cabelos castanhos, comum como a paisagem que cerca a todos naquele lugar.
      A empresa estabeleceu um prazo de sete dias para convocar os aprovados. Afonso estava em seu apartamento, ouvindo uma música que dizia "se tu soubesse como machuca, não amaria mais ninguém", quando o telefone tocou. Ele agora era um homem empregado e deveria comparecer à sede da empresa às 8:00 da manhã da segunda. Era uma sexta e faziam 24 graus. "Se tu soubesse, não contaria pra ninguém."
      Ele lembrava bem da garota. Olhos grandes, uma voz suave, cabelos ondulados. Ela entrou em um ônibus qualquer e ele partiu à sua procura. "Mas você nem sabe o nome dela!". Era verdade. Agora, pelo menos, poderia viver sozinho e tentar ter uma vida agitada na capital. (A garota nunca chegou à cidade, mas ele nunca soube disso).
      Segunda-feira. Afonso. Terno. Começaria a trabalhar como assistente em uma média empresa, localizada no norte da cidade. Distribuiu "bons dias" e recebeu alguns de volta. Tomou um café e levou outro para seu chefe. Começou a trabalhar. Foi para casa às 6. Tomou um banho, jantou uma sopa, regou o pé de tomate, foi dormir. Terça, quarta, quinta, sexta. Bom dia, café, chefe, trabalho. Casa, banho, sopa, regar, dormir. Setembro, outubro, novembro. Bom dia, café, bajulação, trabalho. Apartamento, banheiro, jantar, pé de tomate, cama.
      Livrou-se do marasmo de um lugar quieto, de pessoas e paisagens iguais. Perdeu-se em um labirinto cinza de M.D.F., onde todos bebem a mesma bebida, aspiram a mesma fumaça, vestem a mesma marca barata de terno e distribuem sempre o mesmo "bom dia".

sábado, 22 de setembro de 2012

Não me deixa ir.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O capitão e a rainha da guarda


    Partiu. Poderia ter ido às 12, mas sua passagem dizia "9 horas". Quando chegou à estação, eu estava lá. Rosto lívido, chapéu nas mãos. Eu vi sua mala ali, decidida, e só então percebi que sempre soube que você partiria.
    Quando costumávamos nos encontrar, meu coração ardia. Não batia forte, não palpitava. Ardia. Eu conseguia sentir  sua presença, não precisava nem abrir os olhos. Talvez apenas a novidade de aquilo tudo tivesse me prendido a você.
    Eu ouvia suas palavras sempre em minha mente. Elas falavam sobre cidades iluminadas, brisas. Falavam sobre um tempo distante, sobre uma vida distante. De tanto hesitar, acabei me perdendo.
    O cheiro da fumaça me fazia tossir. Você ria e eu me sentia cada vez mais perdida, apesar de não querer acreditar que você realmente iria partir. Os trens chegavam e saíam o tempo todo. Haviam pessoas em todo o lugar. Havia você, em frente a mim.
    Era um dia quente e meus cabelos estavam amarrados. Nossos olhos se cruzavam. Hoje lembro que nunca pedi para que você ficasse. Só o  abracei. Tentei gritar qualquer coisa, mas não consegui. Fiquei quieta, depois tremi. Ouvi que era sua hora de embarcar. Coloquei meu chapéu, acenei. Você acenou de volta, pela janela. Tentei sorrir, mas sorrir nunca fora confortável. Por que iria de ser, agora?
    Eu pensava como era incrível como a sua decisão de ir embora não se dissolvia ali, como eu havia me dissolvido. O trem começou a se mover, você dentro dele. Não pisquei até perder seu rosto de vista. Eu via, então, um outro trem chegar. Vi abraços, sorrisos, lágrimas. Nada vinha de mim. Eu senti novamente o cheiro da fumaça, ela havia tomado conta da estação, tomado conta das pessoas. Percebi, então, que nenhuma delas era você.

A rainha e o capitão da guarda

    Eu poderia dizer que foram seus olhos. Poderia descrevê-los e lembrar de como olhar para eles, antes, não me significava nada. Mas ao lembrar de tudo, percebo que foi um tudo. Que o fato do seu universo estranho e curioso se chocar com o meu; pequeno e corroído me fez perder totalmente o rumo de tudo. Fiquei atônita.
    Suas palavras me deixavam completamente sem reação, muda. Logo eu. Quanto mais a tua fala avançava, eu sentia meus cabelos ao vento e mergulhava em seu mundo, que você chamou de nosso, apesar de eu não ter criado uma muralha, um castelo.
    Imaginava a sua vida, sua rotina, os momentos em que você me lembrava: "tem alguém por aí pesando em você." Eu recordava, então, o quão proibido aquele "nós" havia se tornado. A tua existência não me permitia. A minha era frágil e impossibilitava-me de te pertencer. Por mais que a minha luta fosse contra nós, meu coração sabia que o teu sentimento me puxava.
    Lembro de um dia, em que você me sorria a todo instante. Que me jogou uma flor lilás e me viu enrubescer. Talvez por isso sorrisse tanto. Nosso segredo, sempre mais teu do que meu, pesava sobre meus ombros e me acorrentava a todo olhar seu que eu via em mim. Eu tinha 17 anos.
    Minha pouca idade deixava escapar detalhes ao meu entendimento que, hoje, depois de tantos anos, me fazem questionar se algo poderia ter sido diferente. Me pergunto se hoje eu seria capaz de correr atrás do seu trem e não deixar você partir. Se eu seria capaz de aceitar viver em seu mundo e construir tantos outros ao teu lado.
   As vezes sinto vontade de escrever para você, de dizer que quero voltar àquela torre, mas, hoje, o "nós" está dissolvido. A flor lilás que eu guardei, desapareceu dentro de algum livro. Você correu sua vida e eu esqueci de pedir para que não esquecesse de mim.
   No fim, desaparecemos. Fomos embora e nos perdemos, como o vento que sopra todos os dias e faz balançar minhas cortinas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eu não sei lidar

Me estranha ser chamada pelo nome que não tenho,
pela palavra que não digo,
pelo dedo que não ergo.
Pelo discurso que não ouço,
pelo líder que não elejo,
pelo sonho que não compartilho,
pela vida que não levo.
Me incomoda o teu tom, tua cegueira, teu desgosto.
E quanto tuas mãos fecham teus olhos e deixam você andar sozinha, perdida por esse mundo cheio de signos e palavras soltas, vejo tua vida balançando numa teia frágil. Balançando e temendo por cair e acordar aonde você dormiu e não quis acordar, pra conseguir esquecer.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Metáfora

Quando tudo parece perdido, eu tento me prender a tudo que parece ser seguro. Não importa o que seja. Sinto um desespero e começo a correr a procura de algum lugar, alguma voz, algum olhar que possa me dizer que, por algum tempo, eu posso ficar a salvo. Há um momento desesperador agora.

sábado, 18 de agosto de 2012

Consigo sentir todas as suas rugas em minhas mãos. Poderia contá-las, se me coubesse.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Rodovia 57

Vento, sol, cabelos.
Todo aquele cheiro de mar e o ardor na pele.
Você.
Todas as histórias por viver e apenas uma para contar.
Você.
Uma vida toda esperando para acontecer e uma liberdade fabricada.
Você.
Uma chuva inesperada e um dia inacabado.
Você.
Uma alegria inocente e um pneu furado.
Você.
Corridas contra o tempo e noites estreladas.
Você.
Um diário e uma flor amassada.
Você.
Uma gripe e uma xícara de chá.
Você.
A velhice e uma vida para lembrar.
Você.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Für Elise (para ler ao som de)

- Ouvidoria pública, bom dia.
- Bom dia...
- Diga, senhor.
- Eu... Eu não sei por onde começar.
- Um minuto, senhor.
Ela descruzou as pernas.
Ele pode ouvir o som da cadeira balançando.
Ela descansou o telefone em sua mesa e examinou as unhas. Ao encaixar novamente o aparelho ao redor da cabeça, pôde ouvir a respiração dele do outro lado da linha.
- Alô, você consegue me ouvir? Eu não aguento mais. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo mas ninguém consegue ver. Você não percebe que tudo está desabando? Que eu e você somos sustentados por algo que nem parece ser mais sólido de tão...
- Desculpe, mas, com quem estou falando?
- Não, você não entende.
- Quem está falando?
- Me ouve, me ouve. Tá tudo desabando. Ninguém mais pode sair por aí normalmente. Todas as pessoas vivem como se isso daqui fosse sólido mas, mas... Por que ninguém percebeu ainda? Não há nada sólido nesse lugar! Não existe segurança e todos estão tranquilos e as crianças correm por aí e... As crianças. Você não percebe que elas não têm culpa de nada, nem percebem nada, nem esperam nada?
- Senhor, eu...
- Você! Me escute! Por favor... Ando pelas avenidas e vejo carros, prédios, pessoas dentro de bolhas que passam sobre morros e caem em buracos, mas nenhum ruído é ouvido, nenhum tremor é sentido.
- Qual é o seu nome?
- Eu... Eu preciso de ajuda. Preciso de ajuda para conseguir reerguer tudo antes que todos caiam. Não quero...(pausa)
- Alô?
- ... Não quero ver tudo destruído. (grande pausa)
- Senhor?
- Estou aqui.
- Alô?
- Alô.
- Ouvidoria pública, bom dia.
- Bom dia.
- Meu nome é Karina, o que deseja?
- Eu... Eu não sei ao certo.
- Não há problema. Estou transferindo sua ligação para o ramal de "Dúvidas frequentes". Aguarde um minuto, por favor.
- O-K.
(longa pausa)
- (mensagem automática) Dúvidas frequentes. Para "Eventos", tecle 1. Para "Obras" tecle 2. Para "Horários de funcionamento" tecle 3. Para "Ramais", tecle 4. Para voltar ao "Menu Principal", tecle 0.
- (som do teclado apertando a tecla 0)
- Ouvidoria pública, Karina, bom dia.
- Bom dia, Karina. Você ouviu algo do que eu disse?
- Desculpe, com quem eu falo?
- Sou eu. Você... Você prestaria atenção no que eu falo se eu a convidasse para sair?
- Desculpe senhor, não tenho permissão para tratar de tais assuntos.
- Quem mantém o seu emprego?
- Senhor, não tenho permissão para dar nenhum tipo de informação pessoal referente a nenhum funcionário.
- Desculpe.
- Gostaria de retornar e escolher uma outra opção?
- Eu não tenho opções, Karina. Você não vê?
- Senhor, preciso desligar e atender outras ligações.
- Tudo bem.
(...)
- Ouvidoria pública, bom dia.
- Bom dia, Karina. Você ouviu algo do que eu disse?
- Desculpe, com quem eu falo?
- Sou eu. Você... Qual o seu problema?
- Desculpe senhor, o que deseja?
- ...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

agridoce

Aceitaria tomar um comprimido que, mesmo que me deixasse com dor de estômago, tornasse meus relacionamentos mais fáceis e leves. Por mais perfeito que seja, ou esteja, ou pareça, sempre existe um grande problema que me faz chorar e ter dores no coração. A medicina deveria criar um ramo que cuidasse disso, que tratasse o lado emocional do coração. Um “amorologista”. Mas com outro nome, porque esse não parece alguém que cuida de quem sofre de/por amor. Eu aceito sofrer deste jeito ou até mais, se algo muito bom estiver me esperando daqui a 5, 10 anos. Mas se não houver nada, por favor Deus, me dê um sinal. Se meu destino não for ser feliz amando, farei caridade até o fim dos meus dias (esse é um jeito bonito, ao meu ver, de viver sem um amor só meu). No fundo, no fundo, espero que este sinal nunca venha. Tenho muitos planos em relação a este amor que vivo agora, passaria minha vida sentindo seu cheiro e me alimentando de suas alegrias. Apenas peço mais simplicidade nas cobranças. Menos problemas, uma pitada a menos de brigas e o dobro de felicidade. Deus, eu quero um amor mais fácil de viver.

domingo, 1 de julho de 2012

Breve

Você disse "vem amanhã, garota". Esperei muitos minutos até esse amanhã chegar e, quando chegou, foi o mais breve que poderia ser.
Pensei em cada detalhe após ouvir a tua voz, com aquele tom de normalidade e o sotaque que eu gosto tanto. Troquei a cor do batom, soltei o cabelo e cheguei cedo, pra ver se você iria fazer aquela mesma cara de espanto ao me ver lá, sozinha, esperando algo que também me surpreendesse.
Corri e fui o mais rápido que pude. Cheguei e fiquei surpresa ao ver você lá, sentado ao lado da janela, tomando café. No princípio, quase não notou minha presença. Depois, talvez pelo barulho que sempre faço quando arrumo minhas coisas, você levantou os olhos e me cumprimentou. Sentei e fiquei olhando seus papéis. Ao perceber que era realmente eu, você tomou o último gole e tentou puxar algum assunto. Eu então tentei prolongar o impossível, mas você simplesmente deu por acabado e tive de ir embora. Você não notou a troca do batom, nem meu cabelo solto. Afinal, por que haveria de notar?
Se meus olhos não estivessem ofuscados pelos meus pensamentos, eu teria notado que você me tratou como qualquer outra ao dizer que estava me esperando no amanhã. Até porque, eu sou como qualquer outra. O perfume novo, ou o batom emprestado não me fazem outra pessoa.
Eu penso em escrever um e-mail a você, contando tudo que tenho pensado sobre como te acho bonito e como gosto de ver o jeito como você escreve. Mas lembro que toda a minha gramática se torna tola ao ter qualquer contato contigo e como me sinto boba ao achar que seu tempo guardaria um segundo para os meus desejos estranhos.
Quando te observo de longe, vejo quem te cerca. Sempre o mesmo tipo de pessoas. Sempre as mesmas mulheres, com somente os nomes diferentes. Como todas elas sorriem e como são tão alegres o tempo todo. Eu observo e penso que você precisa de alguém que acorde ao teu lado e coloque meias nos teus pés quando estiver frio. Alguém que não reclame dos seus muitos copos de café diários, que goste da sua barba mal feita e que cuide de você. Mas nenhuma das que te cercam querem mais do que uma noite, uma semana, talvez.
Não digo que eu faria tudo isso, você sabe, não tenho muito jeito com tudo isso, mas eu colocaria você no colo, faria carinho na sua cabeça e diria que tudo aquilo já passou, que você não precisa mais se preocupar. Eu iria até o seu apartamento numa "terça-feira cinza", brincaria com o seu cachorro e esperaria até você não ter mais nenhum trabalho a fazer só para poder ficar olhando teus olhos cansados, só para ficar olhando para o teu cansaço eterno.
Depois isso tudo, pergunto a mim mesma se isso é real. Se eu crio esse seu lado dentro de mim e fantasio enquanto você bebe e nem imagina que eu me iludo sozinha. Me pergunto se você reconheceria seus olhos e suas mãos dentro dessas palavras. Se você viria até mim. Se.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

E tudo que foi despejado em meus ombros pegou fogo, queimando-me dos cabelos à alma. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Tá tudo tão preso e tão atado de um jeito, que não sai. Nada sai. As coisas estão presas aqui dentro como uma criança em uma piscina de bolinhas. Ela se agarra e tudo que encontra pela frente para não ir embora dali.
É isso que sinto dentro de mim. Todas essas coisas que precisam sair se agarram em tudo que podem e só fazem crescer a angustia e a tristeza que eu possuo.
Vulnerável. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

melodrama

E se estiver cansado, faça com que eu saiba. Não me deixe nunca imaginar que você se  sente bem assim,  quando na verdade é o contrário. Já dói demais saber que você  também sofre com essa insistência de me querer, mas eu tenho consciência do teu sofrimento. Entende o que quero dizer?
Eu não sei ser  quem sou sem estar sofrendo, mas  sei que você é daqueles que são felizes de verdade.
E sei também que você me aceita assim e fico bem em ti ver  assim, aceitando o jeito que levo minha vida e querendo fazer parte dela cada vez mais.
Só peço que continue assim e que nunca falte sinceridade  naquilo que chamamos de nosso.
Minha alma chora, o tempo todo. E é somente isso. Por tudo que aconteceu, por todos os medos e anseios, por tudo que vai acontecer. Lágrimas e mais lágrimas são derramadas,  mas não há nada para enxugar.  
Vírgulas invadem tudo que conheço e vivo passando por cima de pausas intermináveis. Não preciso de descanso, quero uma imensa continuidade.