Eu poderia dizer que foram seus olhos. Poderia descrevê-los e lembrar de como olhar para eles, antes, não me significava nada. Mas ao lembrar de tudo, percebo que foi um tudo. Que o fato do seu universo estranho e curioso se chocar com o meu; pequeno e corroído me fez perder totalmente o rumo de tudo. Fiquei atônita.
Suas palavras me deixavam completamente sem reação, muda. Logo eu. Quanto mais a tua fala avançava, eu sentia meus cabelos ao vento e mergulhava em seu mundo, que você chamou de nosso, apesar de eu não ter criado uma muralha, um castelo.
Imaginava a sua vida, sua rotina, os momentos em que você me lembrava: "tem alguém por aí pesando em você." Eu recordava, então, o quão proibido aquele "nós" havia se tornado. A tua existência não me permitia. A minha era frágil e impossibilitava-me de te pertencer. Por mais que a minha luta fosse contra nós, meu coração sabia que o teu sentimento me puxava.
Lembro de um dia, em que você me sorria a todo instante. Que me jogou uma flor lilás e me viu enrubescer. Talvez por isso sorrisse tanto. Nosso segredo, sempre mais teu do que meu, pesava sobre meus ombros e me acorrentava a todo olhar seu que eu via em mim. Eu tinha 17 anos.
Minha pouca idade deixava escapar detalhes ao meu entendimento que, hoje, depois de tantos anos, me fazem questionar se algo poderia ter sido diferente. Me pergunto se hoje eu seria capaz de correr atrás do seu trem e não deixar você partir. Se eu seria capaz de aceitar viver em seu mundo e construir tantos outros ao teu lado.
As vezes sinto vontade de escrever para você, de dizer que quero voltar àquela torre, mas, hoje, o "nós" está dissolvido. A flor lilás que eu guardei, desapareceu dentro de algum livro. Você correu sua vida e eu esqueci de pedir para que não esquecesse de mim.
No fim, desaparecemos. Fomos embora e nos perdemos, como o vento que sopra todos os dias e faz balançar minhas cortinas.
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