Partiu. Poderia ter ido às 12, mas sua passagem dizia
"9 horas". Quando chegou à estação, eu estava lá. Rosto lívido,
chapéu nas mãos. Eu vi sua mala ali, decidida, e só então percebi que sempre
soube que você partiria.
Quando
costumávamos nos encontrar, meu coração ardia. Não batia forte, não palpitava.
Ardia. Eu conseguia sentir sua presença,
não precisava nem abrir os olhos. Talvez apenas a novidade de aquilo tudo
tivesse me prendido a você.
Eu ouvia suas palavras
sempre em minha mente. Elas falavam sobre cidades iluminadas, brisas. Falavam
sobre um tempo distante, sobre uma vida distante. De tanto hesitar, acabei me
perdendo.
O cheiro da fumaça me fazia tossir. Você ria e eu me sentia
cada vez mais perdida, apesar de não querer acreditar que você realmente iria
partir. Os trens chegavam e saíam o tempo todo. Haviam pessoas em todo o lugar.
Havia você, em frente a mim.
Era um dia quente e meus cabelos estavam amarrados. Nossos
olhos se cruzavam. Hoje lembro que nunca pedi para que você ficasse. Só o abracei. Tentei gritar qualquer coisa, mas
não consegui. Fiquei quieta, depois tremi. Ouvi que era sua hora de embarcar.
Coloquei meu chapéu, acenei. Você acenou de volta, pela janela. Tentei sorrir,
mas sorrir nunca fora confortável. Por que iria de ser, agora?
Eu pensava como era incrível como a sua decisão de ir embora
não se dissolvia ali, como eu havia me dissolvido. O trem começou a se mover,
você dentro dele. Não pisquei até perder seu rosto de vista. Eu via, então, um
outro trem chegar. Vi abraços, sorrisos, lágrimas. Nada vinha de mim. Eu senti
novamente o cheiro da fumaça, ela havia tomado conta da estação, tomado conta
das pessoas. Percebi, então, que nenhuma delas era você.
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