domingo, 18 de agosto de 2013

the imaginary thing

     Quando viu-se sentada em sua poltrona, certificou-se de reparar cada detalhe. Seu número era o 16. Levava apenas uma mala, mas não pôde carregá-la consigo. Ao se lado, uma janela. Pequena, de acabamento redondo e com cortinas brancas. Resolveu que só as abriria após levantarem voo, pra evitar  vertigem.
     Já no céu, pôs-se a pensar sobre suas escolha. As nuvens, paradas, se movimentavam e ela lembrava de cada tentativa falha. Amores impossíveis, incalculáveis, incompreendidos, insuficientes. Percebeu que tudo o que ela escolheu para cercá-la estava ali para tentar livrá-la de seu maior tormento: a solidão do dia-a-dia.
     Chegou ao aeroporto e logo, dentro de um táxi, começou a ensaiar um conjunto de mil palavras que nunca seriam ditas. Cabeça baixa, endereço em mãos. Era admirada pelo motorista - não tinha consciência da beleza de seus olhos grandes, e não tinha ideia de para onde estava indo. Apenas ia.
     À medida que a cidade se tornava mais maciça e cinza, imaginava-se parada à porta do 340 - seu destino, ali. Ao abrir a porta, encontrava uma silhueta recortada, tons de vermelho pelo apartamento, movimentos banais e tudo menos a solidão que ela esperava. Acordava do devaneio ao ouvir qualquer buzina e sentia-se aliviada por ainda estar no banco do carro. Talvez, pensava, tudo aquilo não passasse de mais uma tentativa que iria juntar-se à lista das mal sucedidas, mas ela não podia impedir seus braços e pernas e olhos e pele e coração de chegar até ali.
     Parada, olhando para o número 340, feito de madeira, procurou entender os ruídos e as cores. O silêncio era audível (e como ela amava ouvir o silêncio) e tudo parecia azul. Juntou os pés ao tapete e tocou, de leve, a campainha.
     De dentro do apartamento, ouviu sair um barulho de chaves. A porta foi aberta e revelou um conjunto de cachos, pele, dentes, altura, tecido e aconchego. Por alguns segundos, olhares estranhos foram trocados e ela percebeu, no olhar que recebia, uma sonolência invejável. Sorriu.
              "Que eu seria apenas uma parte da tua vida que ficaria para trás."
Pediu que ela entrasse. Pediu que ficasse. Pediu que o amasse.

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