domingo, 1 de julho de 2012

Breve

Você disse "vem amanhã, garota". Esperei muitos minutos até esse amanhã chegar e, quando chegou, foi o mais breve que poderia ser.
Pensei em cada detalhe após ouvir a tua voz, com aquele tom de normalidade e o sotaque que eu gosto tanto. Troquei a cor do batom, soltei o cabelo e cheguei cedo, pra ver se você iria fazer aquela mesma cara de espanto ao me ver lá, sozinha, esperando algo que também me surpreendesse.
Corri e fui o mais rápido que pude. Cheguei e fiquei surpresa ao ver você lá, sentado ao lado da janela, tomando café. No princípio, quase não notou minha presença. Depois, talvez pelo barulho que sempre faço quando arrumo minhas coisas, você levantou os olhos e me cumprimentou. Sentei e fiquei olhando seus papéis. Ao perceber que era realmente eu, você tomou o último gole e tentou puxar algum assunto. Eu então tentei prolongar o impossível, mas você simplesmente deu por acabado e tive de ir embora. Você não notou a troca do batom, nem meu cabelo solto. Afinal, por que haveria de notar?
Se meus olhos não estivessem ofuscados pelos meus pensamentos, eu teria notado que você me tratou como qualquer outra ao dizer que estava me esperando no amanhã. Até porque, eu sou como qualquer outra. O perfume novo, ou o batom emprestado não me fazem outra pessoa.
Eu penso em escrever um e-mail a você, contando tudo que tenho pensado sobre como te acho bonito e como gosto de ver o jeito como você escreve. Mas lembro que toda a minha gramática se torna tola ao ter qualquer contato contigo e como me sinto boba ao achar que seu tempo guardaria um segundo para os meus desejos estranhos.
Quando te observo de longe, vejo quem te cerca. Sempre o mesmo tipo de pessoas. Sempre as mesmas mulheres, com somente os nomes diferentes. Como todas elas sorriem e como são tão alegres o tempo todo. Eu observo e penso que você precisa de alguém que acorde ao teu lado e coloque meias nos teus pés quando estiver frio. Alguém que não reclame dos seus muitos copos de café diários, que goste da sua barba mal feita e que cuide de você. Mas nenhuma das que te cercam querem mais do que uma noite, uma semana, talvez.
Não digo que eu faria tudo isso, você sabe, não tenho muito jeito com tudo isso, mas eu colocaria você no colo, faria carinho na sua cabeça e diria que tudo aquilo já passou, que você não precisa mais se preocupar. Eu iria até o seu apartamento numa "terça-feira cinza", brincaria com o seu cachorro e esperaria até você não ter mais nenhum trabalho a fazer só para poder ficar olhando teus olhos cansados, só para ficar olhando para o teu cansaço eterno.
Depois isso tudo, pergunto a mim mesma se isso é real. Se eu crio esse seu lado dentro de mim e fantasio enquanto você bebe e nem imagina que eu me iludo sozinha. Me pergunto se você reconheceria seus olhos e suas mãos dentro dessas palavras. Se você viria até mim. Se.

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