Sou uma rua, uma flor, o vento que sopra e faz você sentir frio. Posso estar em qualquer lugar.
sábado, 22 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
O capitão e a rainha da guarda
Partiu. Poderia ter ido às 12, mas sua passagem dizia
"9 horas". Quando chegou à estação, eu estava lá. Rosto lívido,
chapéu nas mãos. Eu vi sua mala ali, decidida, e só então percebi que sempre
soube que você partiria.
Quando
costumávamos nos encontrar, meu coração ardia. Não batia forte, não palpitava.
Ardia. Eu conseguia sentir sua presença,
não precisava nem abrir os olhos. Talvez apenas a novidade de aquilo tudo
tivesse me prendido a você.
Eu ouvia suas palavras
sempre em minha mente. Elas falavam sobre cidades iluminadas, brisas. Falavam
sobre um tempo distante, sobre uma vida distante. De tanto hesitar, acabei me
perdendo.
O cheiro da fumaça me fazia tossir. Você ria e eu me sentia
cada vez mais perdida, apesar de não querer acreditar que você realmente iria
partir. Os trens chegavam e saíam o tempo todo. Haviam pessoas em todo o lugar.
Havia você, em frente a mim.
Era um dia quente e meus cabelos estavam amarrados. Nossos
olhos se cruzavam. Hoje lembro que nunca pedi para que você ficasse. Só o abracei. Tentei gritar qualquer coisa, mas
não consegui. Fiquei quieta, depois tremi. Ouvi que era sua hora de embarcar.
Coloquei meu chapéu, acenei. Você acenou de volta, pela janela. Tentei sorrir,
mas sorrir nunca fora confortável. Por que iria de ser, agora?
Eu pensava como era incrível como a sua decisão de ir embora
não se dissolvia ali, como eu havia me dissolvido. O trem começou a se mover,
você dentro dele. Não pisquei até perder seu rosto de vista. Eu via, então, um
outro trem chegar. Vi abraços, sorrisos, lágrimas. Nada vinha de mim. Eu senti
novamente o cheiro da fumaça, ela havia tomado conta da estação, tomado conta
das pessoas. Percebi, então, que nenhuma delas era você.
A rainha e o capitão da guarda
Eu poderia dizer que foram seus olhos. Poderia descrevê-los e lembrar de como olhar para eles, antes, não me significava nada. Mas ao lembrar de tudo, percebo que foi um tudo. Que o fato do seu universo estranho e curioso se chocar com o meu; pequeno e corroído me fez perder totalmente o rumo de tudo. Fiquei atônita.
Suas palavras me deixavam completamente sem reação, muda. Logo eu. Quanto mais a tua fala avançava, eu sentia meus cabelos ao vento e mergulhava em seu mundo, que você chamou de nosso, apesar de eu não ter criado uma muralha, um castelo.
Imaginava a sua vida, sua rotina, os momentos em que você me lembrava: "tem alguém por aí pesando em você." Eu recordava, então, o quão proibido aquele "nós" havia se tornado. A tua existência não me permitia. A minha era frágil e impossibilitava-me de te pertencer. Por mais que a minha luta fosse contra nós, meu coração sabia que o teu sentimento me puxava.
Lembro de um dia, em que você me sorria a todo instante. Que me jogou uma flor lilás e me viu enrubescer. Talvez por isso sorrisse tanto. Nosso segredo, sempre mais teu do que meu, pesava sobre meus ombros e me acorrentava a todo olhar seu que eu via em mim. Eu tinha 17 anos.
Minha pouca idade deixava escapar detalhes ao meu entendimento que, hoje, depois de tantos anos, me fazem questionar se algo poderia ter sido diferente. Me pergunto se hoje eu seria capaz de correr atrás do seu trem e não deixar você partir. Se eu seria capaz de aceitar viver em seu mundo e construir tantos outros ao teu lado.
As vezes sinto vontade de escrever para você, de dizer que quero voltar àquela torre, mas, hoje, o "nós" está dissolvido. A flor lilás que eu guardei, desapareceu dentro de algum livro. Você correu sua vida e eu esqueci de pedir para que não esquecesse de mim.
No fim, desaparecemos. Fomos embora e nos perdemos, como o vento que sopra todos os dias e faz balançar minhas cortinas.
Suas palavras me deixavam completamente sem reação, muda. Logo eu. Quanto mais a tua fala avançava, eu sentia meus cabelos ao vento e mergulhava em seu mundo, que você chamou de nosso, apesar de eu não ter criado uma muralha, um castelo.
Imaginava a sua vida, sua rotina, os momentos em que você me lembrava: "tem alguém por aí pesando em você." Eu recordava, então, o quão proibido aquele "nós" havia se tornado. A tua existência não me permitia. A minha era frágil e impossibilitava-me de te pertencer. Por mais que a minha luta fosse contra nós, meu coração sabia que o teu sentimento me puxava.
Lembro de um dia, em que você me sorria a todo instante. Que me jogou uma flor lilás e me viu enrubescer. Talvez por isso sorrisse tanto. Nosso segredo, sempre mais teu do que meu, pesava sobre meus ombros e me acorrentava a todo olhar seu que eu via em mim. Eu tinha 17 anos.
Minha pouca idade deixava escapar detalhes ao meu entendimento que, hoje, depois de tantos anos, me fazem questionar se algo poderia ter sido diferente. Me pergunto se hoje eu seria capaz de correr atrás do seu trem e não deixar você partir. Se eu seria capaz de aceitar viver em seu mundo e construir tantos outros ao teu lado.
As vezes sinto vontade de escrever para você, de dizer que quero voltar àquela torre, mas, hoje, o "nós" está dissolvido. A flor lilás que eu guardei, desapareceu dentro de algum livro. Você correu sua vida e eu esqueci de pedir para que não esquecesse de mim.
No fim, desaparecemos. Fomos embora e nos perdemos, como o vento que sopra todos os dias e faz balançar minhas cortinas.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Eu não sei lidar
Me estranha ser chamada pelo nome que não tenho,
pela palavra que não digo,
pelo dedo que não ergo.
Pelo discurso que não ouço,
pelo líder que não elejo,
pelo sonho que não compartilho,
pela vida que não levo.
Me incomoda o teu tom, tua cegueira, teu desgosto.
E quanto tuas mãos fecham teus olhos e deixam você andar sozinha, perdida por esse mundo cheio de signos e palavras soltas, vejo tua vida balançando numa teia frágil. Balançando e temendo por cair e acordar aonde você dormiu e não quis acordar, pra conseguir esquecer.
pela palavra que não digo,
pelo dedo que não ergo.
Pelo discurso que não ouço,
pelo líder que não elejo,
pelo sonho que não compartilho,
pela vida que não levo.
Me incomoda o teu tom, tua cegueira, teu desgosto.
E quanto tuas mãos fecham teus olhos e deixam você andar sozinha, perdida por esse mundo cheio de signos e palavras soltas, vejo tua vida balançando numa teia frágil. Balançando e temendo por cair e acordar aonde você dormiu e não quis acordar, pra conseguir esquecer.
Assinar:
Postagens (Atom)