domingo, 17 de novembro de 2013

Adiós

    Tô te esperando aqui, mas não é por nada, não. Tenho certeza de que você já veio várias vezes e não encontrou nada. Nenhum resquício do que eu costumava fazer, ninguém conhecido. Sei que esse café era o "nosso lugar", mas, aqui, você só vai ver marcas de alguém que eu não sou mais.
    Sentávamos sempre na mesma mesa e pedíamos sempre a mesma coisa. Eu nunca entendi a sua obsessão por vodca. Acredito que nem goste de verdade, como muita coisa que eu nunca acreditei que você fosse. Hoje, não estou sentada naquela mesa. Escolhi um lugar diferente, bem iluminado e com vista para a avenida. Pedi um chá, diferente do refrigerante de antes e hoje vejo que mudaram os garçons daqui. Vamos ver se você ainda vai reclamar do tempo de atendimento.
    Acontece que, quando eu te chamei hoje, você ficou extremamente surpreso. Disse que não me encontrava mais em lugar nenhum, e que havia algo diferente na minha voz. É verdade, Sophia, é a mais pura verdade. Eu não ando mais por lugar nenhum. Agora escolho sempre meu caminho, sabe, escolho a dedo.
    Precisei de acompanhamento psicológico pra entender que a culpa não foi minha. Sabe, de todo aquele tempo, toda aquela culpa que eu acumulei... Você sabe de tudo. Era você, lá. Éramos nós dois. Você sabe do que estou falando. A psicóloga não tirou os olhos de mim.

- Por que você se culpa tanto?
- Hoje eu tenho uma nova pessoa e... não existe problema algum. Acho que ajo igual e não existem problemas. Tá tudo bem e já fazem quase 3 meses.
- Por que você se culpa?
- Eu não sei.
- Você não tem culpa.

    Sendo assim, me abstraio de tudo. Você estava lá, me viu nutrir uma paixão por outra pessoa. Você sabia. Mesmo que eu não soubesse que você sabia, você estava lá e me assistiu do início ao fim. Me assistiu até me ver no chão, sozinha, pra falar que já sabia de tudo e que era tudo culpa minha. Por que levei todo esse fardo por tanto tempo? Bom, esse peso não carrego mais. Se quiser lembrar disto, está tudo em suas mãos, Sophia.
    O que? Qual o problema do meu chá? Amargue-se com sua vodca, do meu chá cuido eu. Não, Sophia, eu não sofro mais, não por você. Eu lhe disse que, por ti, não derramaria lágrima alguma. Nunca mais. Eu chorava em seus braços, me escondia e chorava, soluçava, desejava morrer. Tive um flash de consciência e prometi, jurei que de mim você não tirava mais nada.
    Não quero nada meu que ficou em sua casa. Pode jogar tudo fora, vender, doar. Não me importo. Acho que nada daquilo foi realmente meu. Já as suas coisas, que estão na minha, deixo aqui, em cima dessa mesa. Depois de acordar do seu porre você vai ver tudo e eu desejo que se lembre de mim. Mas não lembre demais. Não te chamei aqui pra reviver algum passado. Mentira. Reviva tudo. Reviva e segure toda a culpa que você sempre atribuiu a mim. Abrace-a. Sinta seu cheiro. Ela é sua. É meu presente para você.
    Estou vivendo tão solta que acabei esquecendo a hora. Não, não. Eu não vou ficar. Não, Sophia, não quero te ouvir. Não quero saber dos seus planos, suas intenções. Não quero nada daquilo que não foi meu. Eu até te pediria desculpas pelo tempo em que te enganei e te feri, mas... Quem vai vir pedir perdão por tudo o que eu chorei? Ninguém vai, porque você nunca vai sair desse seu pedestal. Nunca vai lembrar de sair da sua redoma e enxergar o mundo. Uma coisa eu digo a você: se, naquele último dia, você tivesse escolhido estar junto a mim ao invés de sair com os seus amigos e observar seus outros amores, e ficasse ao meu lado... Bem. Eu não vou imaginar. Foi um caminho que a vida não escolheu pra mim e eu me sinto aliviada. Muito.
    Pode deixar que eu pago a minha conta. Adeus, Sophia, eu encontrei alguém melhor que você.

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